Rua da Prostituição e Tráfico

Cada vez gostava menos daquela rua. Para além de sombria não tinha nada bom aspecto. Era suja, literalmente. Apertei mais o meu casaco, apertando-o contra o meu corpo e o meu olhar prendeu-se num corpo que, de um momento para o outro, saiu de um esquina e começou a avançar na minha direcção. Podia estar escuro, mas eu sabia que este corpo não era o corpo de alguém que me ia fazer mal. Esperei que se aproximasse e depois sim, sorri-lhe.
- Bem me parecia que não te ias esquecer do nosso encontro.- disse, tentando de alguma forma olhar o seu rosto, mas como sempre isso foi-me impossível. Levantei ambas as sobrancelhas, assim que agarrou de repente na minha mão, mas nem sequer me queixei, deixando que me puxasse.- passa-se alguma coisa?

Não me conseguia ver de fora, mas esperava que a forma como baixava a cabeça dentro do capuz fosse suficiente para que ela não conseguisse ver nada da minha cara. Como estava escuro, ajudava no disfarce, mas de vez enquanto um feixe de luz incidia na minha cara à medida que andávamos - não - respondi à sua pergunta. Passava-se muita coisa, mas ela não ia voltar a passar por aquela rua, por isso não valia a pena saber muito mais do que já sabia - mas com a gente maluca que anda por aqui, não quero que estejas por aqui durante muito tempo.

Era verdade que tudo isto de não saber quem ele era me deixava algo de pé atrás mas, por outro lado, e sem saber muito bem porquê, tornava tudo muito mais entusiasmante. Provavelmente estava a deixar-me levar demasiado, mas de qualquer das formas, a minha vida era demasiado aborrecida para não aproveitar um pequeno escape destes. Olhei em volta à medida que andávamos, agradecendo mentalmente por estarmos a sair daquela rua horrorosa e, assim que o ouvi falar, olhei-o.
- Isso quer dizer o quê? - murmurei.- que me queres despachar o mais rápido possível ou estás apenas preocupado com a minha segurança?- falei num tom mais brincalhão para que não se chateasse ou algo do género.