Muro

Muro

Este é o muro que rodeia toda a propriedade do Orfanato.

Mais um dia sem nada para fazer. Quase todos os dias eram assim no orfanato. Ela podia ir à cidade... Ver lojas, observar as pessoas... Mas hoje sentia que mal tinha forças para sair do quarto. Contudo, fê-lo e seguiu para o exterior. Ao chegar ao muro, viu lá um rapaz. Ele não lhe era estranho, mas nunca o tinha visto muito antes.
- Olá. - Cumprimentei com um sorriso amável.

O rapaz parecia atrapalhado. Talvez eu não devesse ter intrometido. Ele devia estar ali por um motivo e talvez fosse para ficar sozinho. Mesmo assim, respondeu-me com gentileza e eu sorri abertamente.
- Muito prazer Jason. - Disse com sinceridade. - Eu sou a Rosemarie, mas normalmente tratam-me por Rose. - Apresentei-me igualmente.

Por breves instantes, senti-o a rir-se e avaliei-o curiosa. O que será que o fez rir?
- Não intrometes em nada. - Apressou-se a dizer, tentando tornar o rapaz mais confortável. Ele não devia estar habituado a socializar. Parecia tão atrapalhado... - Estou aqui à pouco mais de dez anos. - Respondi sem problemas. - Já tu... Aposto que não estás aqui à muito.

Notava-se que ele era novo ali. Para começar, eu não me lembrava dele. Segundo, ele parecia realmente atrapalhado. Não se sentia "em casa". Duvido que algum dia se fosse sentir, mas...
- Sê bem-vindo, então. - Disse suavemente. - Como aguentei? Oh meu caro, há sempre algo a acontecer aqui. E se não for no orfanato, é na cidade. Além disso, quando ouvires falar das gémeas, aposto que perceberás que é impossível morrer de tédio. - Comentei calmamente, enquanto me sentava num banquinho ali disposto.

Quando ele tirou o cigarro da boca, reparei melhor nele. Era alto e bem parecido e achei piada ao cabelo desgrenhado. Dava-lhe um ar atraente. No entanto, reparou em algo que a preocupou. Uma linha fina decorava o pulso dele. Que lhe terá acontecido? Mesmo assim, não mencionou. Da mesma forma que não gostava de falar do seu passado, não inquiria aos outros sobre o deles.
- Yah! Elas tem um blog onde falam da vida de toda a gente. - Contei. - É interessantíssimo! - Exclamei com ironia.
Quando ele lhe fez a outra pergunta, procurou não transparecer o nervosismo que a invadiu. Ela não gostava nada do que a fez vir para cá.
- Bem, sou orfã, logo vim aqui parar... A um orfanato. - Respondi no tom mais descontraído que consegui.

Aquela pergunta surpreendeu-me. Olhei-o num misto de confusão e curiosidade. Porquê que ele estranhava o meu comportamento?
Eu tratava-o bem porque toda a gente merecia ser tratado com carinho e dignidade. Excepto as vacas e os cabrões... Mas, fora esses, todos mereciam um pouco de amor.
- Não compreendo a pergunta. - Disse por fim. - Tu mereces ser tratado bem. És um ser humano com alma. Porque haveria eu de te evitar ou tratar mal?

Quando ele falou sobre o seu problema, senti-me triste por ele. Agora compreendia porque as pessoas se afastavam dele.
Tentando reconfortá-lo, coloquei a minha mão sobre o seu braço, tapando a cicatriz, como se não importasse.
-  Todos nós temos problemas. Só temos de aceitar. - Disse. Eu não me importava. Toda a minha vida soube que um dia morreria. Não tinha medo. - Aposto que até ficarias melhor se tivesses alguém a ajudar-te.

Fiquei realmente surpreendida quando ele me puxou para abraço. Fora rápido, mas senti-me feliz por saber que o tinha deixado um pouco mais confortável e bem.
- Não precisas de te desculpar. Todos nós precisamos de um abraço de vez em quando. - Disse, piscando-lhe o olho.

Fingiu-se ofendida, dando um soco brincalhão no braço do rapaz.
- Sou pequenina mas chego onde quero! - Exclamei, rindo. - Além disso, a mulher quer-se pequenina.

Senti-me feliz por vê-lo rir. Ele não parecia um rapaz que risse genuinamente à algum tempo, apesar da sua gargalhada ser deliciosa. Senti-me aos pulos por dentro.
- Será que acabei de ouvir um elogio? - Perguntei na brincadeira.

Olhou-o atentamente, sorrindo matreira.
- Hum, obrigada pelo elogio, então. - Disse com simpatia. - Namorado? - Perguntei com um ar pensativo, mas brincalhão. A atrapalhação dele fê-la rir. - Nem por isso. Já pedi ao Pai Natal, mas ele não me dá um. - Brinquei.

Senti as bochechas a aquecer e soube que devia estar a corar. Era estranho falar assim com alguém que conhecera agora.
- Bem, sei defender-me quando preciso. - Comentei divertida.