Corredor Principal

Uma vez que estava farta de estar fechada no meu quarto, decidi sair do mesmo para ir até ao andar inferior do orfanato e ver se descobria alguma coisinha para pôr no blog. Como parecia que estavam todos no refeitório, o que era normal uma vez que era hora do almoço, caminhei pelos corredores para sair do orfanato e ir ao jardim fumar para ver se me distraia um bocado.

Saí do escritório da Diretora Diana, tinha-lhe pedido mais um mês, depois de já ter passado dois daqueles que ele me tinha dado, apesar do dinheiro que ela me tinha dado para recomeçar noutro sítio ser algum e suficiente para um mês, eu não ia conseguir trabalho, tal como já se tinha verificado. Tinha desistido da escola no 10º e ninguém queria uma pessoa assim. Fechei a porta, com cuidado, atrás de mim e comecei a andar lentamente até ao meu quarto, mas quando o cheiro a fumo me veio ao nariz, não consegui resistir tirar um cigarro do bolso.

Semicerrei os olhos ao ver o anti-social sair do escritório da minha tia e afastei o cigarro que tinha na boca - Então, foste pedir mais tempinho? - perguntei com um meio sorriso enquanto cruzava os meus braços e o olhava, claro com cuidado por causa do cigarro, não era suposto queimar as minhas roupas - Estás mesmo a adorar estar no orfanato.

Acendi o cigarro e olhei para a silhueta da pessoa que também estava a fumar, revirando os olhos quando reparei quem era. E ainda o voltei a fazer ainda mais exageradamente quando ela me falou. Eu não era propriamente social, mas também não era assim tão anti-social como ela me costumava chamar. - Deixa-me em paz. - mandei - a minha vida não é andar a falar mal das outras pessoas.

Levei novamente o cigarro à boca e expeli o fumo, rindo-me de seguida quando o ouvi falar - É a minha e preciso de novidades. - disse-lhe com um sorriso e pisquei-lhe o olho - Por isso conta-me lá. Foste pedir à minha tia para te manter cá por caridade ou foste dizer-lhe que vais finalmente embora? - atirei o cigarro para o chão que já só estava uma pontinha e pisei o mesmo.

-Grande vida - disse num resmungo falando mais para mim como uma indireta para ela. Fechei os olhos e virei-me para ela respirando fundo - eu não te vou dizer nada, nem sobre mim, nem sobre ninguém. - disse-lhe -pensava que já sabias isso - fumei uma grande parte por meu cigarro e mandei-o para o chão.

Olhei para ele todo nervoso o que me fez rir. Adorava deixar as pessoas chateadas, irritadas e com medo, deixava-me logo mais feliz - Não te preocupes, eu descubro por mim. Como faço sempre. - disse-lhe piscando o olho - Desejo-te boa sorte. Se bem que para alguém que adora este orfanato, desejo mais que sejas operado a essa cabeça.

Já devia ter aprendido que ela gostava que as pessoas ficassem irritadas com ela, e não só, mas para mim era impossível evitar. Ia responder-lhe quando ela disse que eu gostava do orfanato, mas decidi ficar calado antes que alguma coisa que dissesse se virasse contra mim - boa vida - disse-lhe - porque quando eu sair daqui espero nunca mais te ver.

Ri-me ao olhá-lo e encolhi os ombros - Nunca se sabe. - mandei-lhe um beijo com a mão - De qualquer das maneiras vou continuar a saber tudo sobre a tua vidinha desinteressante, e a torná-la muito mais engraçada no meu blog. - pisquei-lhe o olho com um sorriso e continuei a andar enquanto lhe dizia adeus com a mão.

Numa coisa ela tinha razão, a minha vida era desinteressante, mas não tinha culpa, precisava de estar sempre com todos os cuidados, sabia que já tinha sido quase apanhado e não me apetecia morrer tão novo. Ignorei tudo o que ela disse e enquanto ela ia embora eu fui para o lado oposto, para os jardins do orfanato. Era prerivel estar ali a viver do que na rua.

Tirei o meu telemóvel do bolso e olhei para as horas. Estava sem grande vontade de fazer fosse o que fosse, nem me apetecia estar ali como não me apetecia sair dali e ir até à cidade. Encolhi os ombros e continuei a passear pelo orfanato, esperando por um milagre encontrar a Elaine para falar com ela em relação ao blog e a outras coisas menos importantes.

Estava aborrecida de estar dentro do quarto, e por isso, saí do mesmo e comecei a vaguear pelo orfanato. Não havia nada para fazer. Bufei para o ar enquanto via as horas, verificando que era bastante cedo ainda, e quando levantei de novo o olhar vi Emily um pouco mais à frente. Parecia estar tão aborrecida quanto eu. - Emily! - chamei-a enquanto começava a andar em direcção a ela já com um sorriso a aparecer-me nos lábios.

Levantei o olhar do chão quando ouvi a voz da minha irmã e rapidamente me apareceu um sorriso nos lábios enquanto caminhava até ela. Dei-lhe um beijinho na bochecha e agarrei-me ao braço dela - Estava farta de estar aqui à seca, ainda bem que apareceste. - disse-lhe com um sorriso - Temos de tratar de coisas para o blog. - relembrei-a com um sorriso.

Sorri retribuindo o beijinho na bochecha e também eu me agarrei ao seu braço. - E ainda bem que te encontrei, estava farta de estar no quarto. - revirei os olhos mostrando todo o meu aborrecimento mas logo voltei a sorrir. - Pois temos! - exclamei entusiasmada. - Tens alguma ideia ou sabes de alguma notícia nova e bombástica? - perguntei-lhe.

- Estás como eu. - disse-lhe com o mesmo ar aborrecido que ela. Um sorriso apareceu-me logo nos lábios ao ouvir a pergunta da minha irmã e encolhi os ombros - Ainda não tenho grandes novidades mas estou prestes a descobrir. - pisquei-lhe um olho ainda a sorrir - Como sempre vamos contar a vida de toda a gente e descobrir todos os segredos que escondem. - disse muito orgulhosa.

Juntei as sobrancelhas agradada com o que ela estava a dizer-me. - Hmm isso é bom. - esfreguei as mãos uma na outra de contentamento e assenti com a cabeça ao que ela disse. - Vamos descobrir todos os segredos. Um por um. - retorqui. - Nada nos vai escapar e vamos fazer a vida num inferno a esta gente toda. - ri-me sozinha do que tinha dito.

Ri-me ao ver a reação da minha irmã e assenti com a cabeça - Vamos saber de tudo o que se passa e depois toda a gente vai saber quando ler no nosso blog. - disse com um sorriso nos lábios que foi alargando à medida que ouvia a Elaine falar - Isso mesmo. Eles vão dar em malucos e nós vamos ser espetaculares como sempre.

Comecei a rir-me daquilo, era tão divertido e sempre era uma maneira de não morrermos de tédio dentro daquele orfanato. Se não fossemos nós lá, aquilo não teria nenhuma diversão. - Acho que vamos ser odiadas por toda a gente. - constatei ainda a rir-me. Aquilo era-me completamente indiferente.

Olhei para a Elaine com o que ela disse com um ar meio chocado mas desatei a rir - E desde quando é que isso interessa? - perguntei agarrando-me melhor ao braço dela enquanto continuávamos as duas a passear pelos corredores do orfanato - Vamos tornar a nossa vida mais entusiasmante e eles no fundo vão adorar a atenção e saber a vida uns dos outros. - encolhi os ombros - Por isso o Pretty Whispers vai ser espetacular.

Olhei-a enquanto ainda continuava com um sorriso divertido nos lábios. - Desde nunca. - disse com um encolher de ombros e agarrei-me também melhor ao seu braço enquanto percorriamos aqueles corredores ainda um pouco vazios para aquela hora do dia. Assenti com a cabeça a todas as coisas que ela ia dizendo e mordi o meu lábio para evitar rir-me mais alto. - Vai ser um máximo, vou divertir-me tanto e tanto com o nosso blog. - sorri animada. - Claro que eles vão gostar. Vamos tornar a vida deles mais interessante e tudo. - retorqui.

- É isso mesmo. - disse com um meio sorriso divertido nos lábios - Temos de pensar no nosso primeiro post, e depois é só irmos descobrindo os segredos todos e voilá, eles vão adorar e nós ainda vamos adorar mais. - estiquei-me até lhe conseguir dar um beijinho na bochecha - Vou fazer um bocado de exercício, estou demasiado irrequieta. Até logo, Ellie.

Assenti de novo com a cabeça. - Isso é fácil, imaginação é o que não nos falta e descobrir todos os segredos deles também não há-de ser uma tarefa muito difícil. - ri-me levemente e virei a cara para o lado de maneira a beijar também a bochecha dela. - Até logo. - despedi-me dela com um sorriso.